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Eufórica! Foi como eu terminei o dia ontem depois da recepção dos meus amigos para o blog. Não acreditei no calor e no carinho das quase 200 mensagens que recebi no Face e no site. Foram mais de 800 visualizações em menos de 24h, o que pra mim é um super sucesso. Ainda estou meio abobalhada.

Ajudou o fato de eu não ter criado expectativa nenhuma exatamente porque não planejei nada. Claro que já pensava em ter um blog há dezenas, há centenas de anos, mas nunca tinha conseguido responder às perguntas básicas: sobre o que, para quem, como se faz, com que ferramentas, qual o diferencial.

Até que ontem, acordei às 4h da manhã com uma energia diferente, uma disposição que não tinha há muito e comecei a pesquisar sobre o tema. (Tenho que dizer que também consultei horóscopos, tarots, runas, na internet mesmo, sobre se devia fazer um blog e todos só me davam recados positivos do tipo “é chegada a hora”, “faça, depois você resolve as dúvidas”.)

E quando os meninos saíram para a escola com o pai, eu troquei de roupa, às 6h30, pus o biquini e fui dar uma caminhada na praia. Quando cheguei, vi a areia toda lisinha, ainda sem pegadas, como se a praia mais querida do mundo fosse deserta e toda minha. O sol estava rosa e o céu azul coloria o mar até o branco da arrebentação. Uma coisa linda mesmo. Pensei, pensei, pensei.

Cheguei em casa, tomei um banho e o café da manhã com o Paulo. Me sentei na mesa da sala e redigi o post. Editei umas mil vezes até finalmente apertar o botão. Chorei quando publiquei. Não acreditava que finalmente tinha um blog. Não precisei esperar muito e os primeiros comentários chegaram e foram aumentando e as mensagens eram tão, tão, tão lindas, tão cheias de pensamento positivo que foram tomando conta de mim até o fim do dia quando minha mãe e minha tia apareceram aqui em casa, a gente tomou um vinho e brindou a esse dia marcante pra mim.

Uma prima de longe, muito querida,mas com quem não falo com a frequência que gostaria, me escreveu de manhã, pouco depois da postagem, dizendo que havia sonhado comigo. Que nós duas íamos a uma praia linda e que eu estava muito feliz, que foi um sonho ótimo, que ela até comentou com o marido. Fiquei impressionada como às vezes a energia é palpável. E senti como se me encontrasse.  De novo, muito obrigada por tanto carinho que vocês me mandaram ontem.

Carrego comigo

Carrego comigo
há dezenas de anos
há centenas de anos
o pequeno embrulho.

Serão duas cartas?
será uma flor?
será um retrato?
um lenço talvez?

Já não me recordo
onde o encontrei.
Se foi um presente
ou se foi furtado.

Se os anjos desceram
trazendo-o nas mãos,
se boiava no rio,
se pairava no ar.

Não ouso entreabri-lo.
Que coisa contém,
ou se algo contém,
nunca saberei.

Como poderia
tentar esse gesto?
O embrulho é tão frio
e também tão quente.

Ele arde nas mãos,
é doce ao meu tacto.
Pronto me fascina
e me deixa triste.

Guardar um segredo
em si e consigo,
não querer sabê-lo
ou querer demais.

Guardar um segredo
de seus próprios olhos,
por baixo do sono,
atrás da lembrança.

A boca experiente
saúda os amigos.
Mão aperta mão,
peito se dilata.

Vem do mar o apelo,
vêm das coisas gritos.
O mundo te chama:
Carlos! Não respondes?

Quero responder.
A rua infinita
vai além do mar.
Quero caminhar.

Mas o embrulho pesa.
Vem a tentação
de jogá-lo ao fundo
da primeira vala.

Ou talvez queimá-lo:
cinzas se dispersam
e não fica sombra
sequer, nem remorso.

Ai, fardo sutil
que antes me carregas
do que és carregado,
para onde me levas?

Por que não me dizes
a palavra dura
oculta em teu seio,
carga intolerável?

Seguir-te submisso
por tanto caminho
sem saber de ti
senão que te sigo.

Se agora te abrisses
e te revelasses
mesmo em forma de erro,
que alívio seria!

Mas ficas fechado.
Carrego-te à noite
se vou para o baile.
De manhã te levo

para a escura fábrica
de negro subúrbio.
És, de fato, amigo
secreto e evidente.

Perder-te seria
perder-me a mim próprio.
Sou um homem livre
mas levo uma coisa.

Não sei o que seja.
Eu não a escolhi.
Jamais a fitei.
Mas levo uma coisa.

Não estou vazio,
não estou sozinho,
pois anda comigo
algo indescritível.

© CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE
In: A Rosa do Povo, 1945 e
ANDRADE, Carlos Drummond de. Poesia Completa. São Paulo: Nova Aguilar, 2002

(Copiado do site A Voz da Poesia)